sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Sobre o filme "A vida invisível" de Karim Aïnouz





para ler ouvindo Come in, Kaina, da trilha original de "A Vida Invisível":
https://www.youtube.com/watch?v=J8GTS3uDr6A

Sexta-feira, dia 02 de setembro de 2019. Já passava das 22 horas na cerimônia de abertura do Festival Ibero Americano de Cinema, o Cine Ceará, quando a atriz brasileira Fernanda Montenegro adentrou ao palco do Cine São Luís, sendo ovacionada!  Emocionado e surpreso, o público recebeu Fernanda com palmas demoradas. A presença dela no evento, às vésperas de seu aniversário de 90 anos, não havia sido confirmada. Então, era aquele suspense... Sabíamos que Fernanda poderia aparecer no evento porque o filme que abriria o festival, "A Vida Invisível", do diretor cearense Karim Aïnouz, conta com sua participação. Mas não havia certeza...
Até que Fernanda Montenegro entrou pela lateral esquerda do palco que fica em frente à tela do Cine São Luís. Em seu discurso, optou por ler uma carta. Era uma carta cheia de afeto escrita pelo diretor Karim Aïnouz. E foi uma carta mesmo, e não um e-mail, conforme destacou Fernanda. As linhas de Karim falavam do roteiro de "A vida Invisível de Eurídice Gusmão", baseado no livro da escritora brasileira Martha Batalha, e no final, convidavam a atriz para interpretar a personagem"Eurídice Gusmão". Enquanto lia a carta, Fernanda Montenegro emocionou-se várias vezes. E eu, que estava na platéia, a poucos metros, deixei a emoção se transformar em lágrimas. Conheci Karim nos anos 90 como aluna de um de seus cursos livres na Casa Amarela e Dragão do Mar, e recordava o quanto o diretor é alguém doce e sensível, mas aquela carta não estava no script... Um texto rico em ternuras, poesia e amor. Amor pela vida, pelo cinema, pela literatura, pela militância feminista. 
O que viria a seguir seria ainda mais impactante: a exibição de "A vida invisível". 



O filme se passa no Rio de Janeiro dos anos 40. Eurídice Gusmão (Carol Duarte) e sua irmã, Guida (Júlia Stockler) , são filhas de uma dona de casa e de um português durão, seu Manoel, desses que dão ordens à esposa e filhos. As moças sofrem as conseqüências da vida em uma sociedade patriarcal. Um tempo em que as mulheres não tinham muitas escolhas. E até podiam ser obrigadas a casar com um homem escolhido, não por elas. Um tempo em que uma mulher divorciada não tinha mais valor. E se tivesse tido um filho da relação falida, pior ainda. As reflexões que Karim Aïnouz faz com "A Vida Invisível' são muitas e são profundas. Imagine uma mulher que sonhasse com uma carreira profissional. Isso era quase um sonho irrealizável.
O drama é de verdade em "A vida invisível". Porém, problemas para trás, o filme traz algo que continua forte e igual entre nós, humanos: a força do amor. Um amor que é demonstrado pelo laço entre Eurídice e sua irmã: profundo, e que não muda nem com o tempo ou distância. 
Karim nos fala de vidas que passam pela vida vivendo muito pouco: trancafiadas pelas regras criadas pelos outros. O aclamado "A Vida Invisível" ganhou primeiro a mostra "Um certo olhar", em Cannes (2019), e depois seguiu arrebatando a crítica e o público nos mais diversos festivais do mundo, partindo do Cine Ceará de Fortaleza. Sendo a indicação ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, o motivo que o levou aos trending topics dos sites de busca no segundo semestre de 2019. Viva o cinema brasileiro! Viva Karim!

p.s.: Karim Aïnouz nasceu em Fortaleza, em 1966. O diretor de cinema e roteirista já dirigiu mais de 20 filmes de longa metragem. Com destaque para "Madame Satã", seu primeiro longa, tendo lançado o ator Lázaro Ramos. E depois, "O céu de Sueli" e "Praia do Futuro", os preferidos desta que vos fala. Além do último prêmio em Cannes, Aïnouz já foi condecorado em grandes festivais como Berlim, Havana e Rio de Janeiro. 


  

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Eu já amava podcast antes da modinha! por Letícia Amaral


Quem ama escrever raramente escolhe o suporte. Não importa se é papel, tela de computador, site, blog, livro, texto para vídeo, rádio ou podcast. Os textos simplesmente pulululam na cabeça e daí tem que virar realidade...
Quem ama escrever geralmente começa em diários e cadernos, e não foi diferente comigo... Até papel de pão servia para não deixar a inspiração fugir... Mas ultimamente confesso que me apaixonei pelo formato podcast.
Conhecer podcast eu já conhecia desde 2015, quando um amigo me mostrou algumas músicas dele na plataforma "soundcloud", aí vi que era usada também para podcasts... Mas ficou nisso, não me apaixonei exatamente pelo formato naquela época. 
Até que veio 2019. 
2019!
Um ano meio tenebroso para mim.
Uma consulta médica, uns exames, outros exames mais detalhados, e no dia 26 de fevereiro entrei numa sala de cirurgia para uma operação na região pélvica, com anestesia geral e tudo o mais. Cinco horas de cirurgia. Mais um dia de UTI. Dessas coisinhas na vida que ninguém quer passar. Deu tudo certo, mas depois, vinham alguns bons dias de cama, o tal pós-operatório. Foi nessa época, um período de quase três meses, que descobri algo: quando uma pessoa está muito enferma, pode não ter forças nem para segurar um livro. E isto era novidade para mim. Sim, um simples livro pode pesar pouco, mas ainda é pesado para um abdômen operado. Suspirei profundamente e não segurei o choro. Eu queria ler e não podia. Aqueles que haviam sido meus grandes companheiros da minha infância até ali, os livros, não podiam fazer nada por mim. E as pessoas? E os amigos? As pessoas estão muito ocupadas lutando também pelas vidas delas. Me restava pular da cama para a rede, e da rede para a cama... Até que um post de rede social me levou para um canal especial no mesmo "soundcloud" que eu conhecera anos atrás. Era o canal de um escritor brasileiro que admiro muito, o Diego Engenho Novo. E ele havia gravado justamente as crônicas que eu tanto admirava, entre elas "Casamento, modo de usar" e "Amor antigo". Mal acreditei. Coloquei os fones de ouvido e me entreguei à literatura lida de Diego. Uma a uma, as crônicas dele foram me fazendo rir, gargalhar, chorar de emoção, rir de novo, relaxar, viajar no tempo... Fiquei um dia inteiro ouvindo e ouvindo de novo aqueles podcasts. Meu estado mental mudou. Enxuguei o choro e aproveitei cada linha na voz do próprio autor, com um fundo musical instrumental de muito bom gosto. Dali em diante eu não estava mais só. É impressionante como a voz humana tem o poder de acalmar outros humanos. Deixo aqui o meu muito obrigada ao Diego Engenho Novo, com votos de que ele um dia seja reconhecido no mínimo com um Prêmio Jabuti. Obrigada por ter escrito e obrigada por ter gravado e postado no soundcloud. Me salvou!
Ouvia as crônicas, procurava outros autores, outros podcasts. E é claro, como escritora compulsiva, decidi logo: também quero gravar alguns podcasts. Se eu puder fazer companhia para alguém com histórias bacanas, crônicas e ensaios, farei...
E foi o que fiz. 
Ao recuperar a saúde, tratei de pesquisar como faria para escolher os textos, gravar e fazer o upload dos podcasts
Já gravei sobre filosofia ("Conversa com Benjamin sobre o tédio"),  principalmente filosofia de vida, sobre cinema, sobre cinema e filosofia junto ("Sobre a película Julieta") e até uma meditação guiada ("Para dizer Adeus ao Stress") na plataforma Soundcloud.
Hoje em dia, eu não sei se gosto mais de ouvir podcasts ou de gravá-los.  Tenho feito muito as duas coisas. 
Para a minha surpresa, no final de 2019, a Globonews lançou sua plataforma de podcast. E isso fez de 2019 o ano do boom do podcast no Brasil.  
Foi aí que vi que realmente escolhi a profissão certa. O jornalismo bate em mim como uma onda de energia... Eu simplesmente senti no ar a nova onda do podcast, e comigo foi tudo muito orgânico. Ouvi, amei, pesquisei sobre o assunto e passei a produzir num espaço de menos de um semestre. 
Continuo apaixonada pelas imagens, sempre! Nunca deixarei de ser uma realizadora audiovisual enquanto eu viver. Eu sou completamente conquistada pelo cinema, a sétima arte. 
Mas sempre terá aquele dia em que o assunto vai render mesmo um bom podcast! E assim eu deixo o jornalismo me levar... Uma hora em textos de blog, outro momento num documentário sobre a "conchinchina", na sequencia, num vídeo de 1 ou 2 minutos... E agora em podcasts com trilha sonora e tudo o mais.  Encontro vocês numa dessas plataformas, se Deus quiser, me der saúde e tudo der certo! Obrigada! Abraços!

Me encontre no soundcloud: 
https://soundcloud.com/leticiaamaral