Fazia
tempo que eu tinha vontade de ir de casa para o trabalho de
bicicleta. O que mais me motivava era o desejo de emagrecer, e, ao
mesmo tempo, me livrar um pouco daquela sensação de estar presa num
carro. Nunca gostei de dirigir. Dirijo porque é difícil encontrar
outras saídas. O transporte público em Fortaleza é muito ruim e
moro há 11 quilômetros do meu trabalho. Não é todo dia que uma
pessoa está com disposição física para pedalar mais de 10
quilômetros.
Pois
bem... Hoje, a vontade de sair pedalando era maior que eu e decidi
ir! Vesti calça jeans com tecido elástico, tênis de montanhista
(bem reforçado) e blusa de lycra amarela (bem “cheguei”), que
era pra sinalizar bem minha presença nas ruas, além de capacete.
A
sensação de liberdade e de conforto com o meu corpo sobre a
bicicleta foi incrível. Muito bom! Tomei cuidado por mim e pelos
outros. Optei por ruas com ciclovias (nossa! Como ainda são poucas
em Fortaleza!) ou ruas de menor movimento . E quando isso não era
possível, subi algumas calçadas, bem devagar, sempre dando total
prioridade aos pedestres. Em alguns momentos também foi necessário
descer da bike e ir empurrando-a. Sem problemas!
Levei
uma hora e quinze minutos para ir do bairro onde moro até meu
endereço de trabalho, no bairro Benfica. Se fiquei muito cansada?
Não mesmo! Em alguns momentos usei o tempo do semáforo vermelho
para descansar! E isso foi o suficiente para chegar ao meu destino em
paz, inteira e muito muito muito feliz!!!!
Perceber
a cidade com olhos de ciclista é simplesmente mágico e humanizador.
Amei perceber que existem muitas casas lindas pelo caminho. Adorei
notar que a cidade está cheia de ciclistas como eu: notadamente
marinheiros de primeira viagem quando o assunto é ir para o trabalho
de bike. Passear um pouquinho de bicicleta e voltar pra casa muitos
fazem, eu sempre fiz... Mas usar a bike como transporte efetivamente,
tirar um veículo das ruas, isso eu fiz hoje pela primeira vez. E sei
que, a partir de hoje, farei isto muitas vezes. Acho que não farei
todos os dias porque temo sentir dores nas costas, na minha lombar,
que tem um histórico de lesão. Mas, de vez em quando, sim, irei
demais!
Outra
pergunta comum: tive medo? Sim, claro, em alguns momentos. Sobretudo
na avenida 13 de maio, que não sei por qual razão, ainda não tem
ciclovia. Os motoristas de ônibus foram os mais agressivos, sem
dúvida. Eles poderiam tranquilamente afastar um pouquinho mais da
margem da calçada, mas não o fazem. Eles precisam ser
sensibilizados para a importância de uma cidade com mais bicicletas.
Os gestores públicos também precisam dessa conscientização, para
decidam fazer ciclovias em TODAS AS RUAS E GRANDES AVENIDAS. Parece
que eles ainda não entenderam que uma cidade pertence, primeiro, aos
seus moradores, a não às máquinas. E os moradores das cidades são
mais frágeis o quanto mais tiverem sem máquinas. Ou seja,
desenhando: prioridade total para os pedestres, depois para ciclistas
e carroceiros, em seguida para motociclistas, e só depois, deveriam
vir os carros e companhia (ilimitada). Mas não, nossas cidades
brasileiras dão total prioridade aos veículos motorizados. E isso
está na cabeça de muita gente de uma forma bem arraigada,
infelizmente. Lembro até de uma matéria de TV local na qual a
repórter dizia que os motoristas estavam sendo prejudicados pelas
novas ciclovias e seus “intrometidos ciclistas”. Pasmem! É nesse
país que vivemos!!! Inacreditável. A gente não sabe de chora ou se
foge pro além!!!!
Para
mudar tudo isso vai ser preciso muita paciência, diálogo, mais
paciência, textões, passeatas e tudo mais que nossa criatividade
permitir.
Pois
bem, quero viver cada dia da minha vida sem deixar que o medo me
paralize, sem deixar que o medo se torne minha profissão.
E
dedico esse texto à minha querida tia Maria da Graça Reis,
defensora pública, mãe de quatro filhos, que, com um pouquinho mais
de 50 anos (desculpa falar em idade, tia, rsrsrs), vai de bicicleta
pra todo canto... E me fez sentir muita vergonha quando passou por
mim de bicicleta um dia desses... E eu fiquei ali, dentro daquele
carro claustrofóbico, vendo-a deslizar lindamente na minha frente,
alegre, feliz e saradíssima Obrigada tia, obrigada por ser um dos
meus grandes exemplos de vida. E vamos de bike sim! Cada vez mais!
Com muito cuidado amigos, peloamordi!!!!