sábado, 4 de outubro de 2014

Das causas das paixões




Aquele encantamento poderia ter sido moldado justo pelo vento fresco, o chá entre as mãos e todo aquele conjunto de impressões anteriores, possivelmente pura fantasia, como já havia me advertido Schopenhauer. Mas não. É bem devagar, a custa de muitos minutos, que recordo outros pontos de apaixonamento.
E justo agora converso com Novalis uma conversinha de começo de manhã. O café com leite de soja sem açúcar me acorda as idéias junto com os fragmentos perfeitos deste doce senhor que influenciou meu Walter Benjamin ( e disso não tenho dúvidas)...  Novalis me conta que "De um objeto digno de amor não podemos ouvir o bastante, falar o bastante. Alegramo-nos com cada palavra nova, certeira, glorificante. Não depende de nós, se ele não se torna objeto de todos os objetos". Ou poderia ser dito desta outra forma também: não depende de nós se ele se torna, sim, objeto de todos os objetos. Não depende de mim mesmo, não determino.
Determinante foi aquela voz de passarinho, aquela não pressa, aquele desencontro. Determinante foram todos os pequenos encontros absolutamente não marcados, que o mundo da representação batiza de "afinidades". Tua roupa simples como a de um monge. A tua despretensão. A tua hesitação manoeldebarriana, meio fruto de delicadeza, meio fruto de um espírito (de porco) kantiano (eca!). "Cada ser humano é uma pequena sociedade", Novalis me socorre mais uma vez. E suspira: "Amamos a matéria, na medida em que pertence a um ser amado, é portadora de seu traço, ou tem semelhança com ele". Sim, quem ama não escolhe predicados. E esta outra que descobri perto dos 40: quem ama, mesmo, é desprovido de pressa, aparelhado de asas e vai para o mar para aguardar a doce calma da eternidade.

foto: Tela de Wassily Kandinsky, no Pompidou 

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