http://www.gewebe.com.br/pdf/cad11/leticia.pdf
terça-feira, 14 de outubro de 2014
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
Adultos, por nós, gatos!
Adultos pensam que somos cachecóis
Ou cobertores
Adultos comem comidas com molho
Enquanto nós temos que nos contentar com um rango seco e sem graça
Adultos nos fazem bolinhas de papel, mas nem sempre lembram de jogar futebol conosco
Adultos nunca percebem quando entramos nos guarda-roupas
São tão distraídos que ainda fecham a porta do tal guarda-roupa
E por falar em portas,
Nós, gatos, não gostamos delas
Adultos sempre desaparecem atrás delas
A adulta lá de casa, pelo menos, se desculpa e diz que tem ir trabalhar que é para comprar ração fresquinha, areia higiênica e pagar a conta do veterinário
É! Alguns adultos são veterinários
Homens de branco que nos furam com agulhas e introduzem termômetros naquele lugar sem pedir-nos licença
Mas adultos também podem ser cheirosos e macios, como a adulta que é nossa mãe
Por falar em mãe, a nossa biológica sumiu no mundo
Ainda bem que naquele tenebroso 3 de julho de 2014, um dia de chuva, nossa adulta-mãe ouviu nossos miados e nos resgatou do meio de uma moita de cactos
Dia emocionante aquele!
A adulta macia nos abraçou, nos deu banho e leite numa mamadeira de bico nada macio
Parece que os adultos chamam esse tal objeto de seringa
Pois é...
Adultos nos pegam no colo como se fôssemos bebês e nos sorriem
Algumas vezes o sorriso some
E não sabemos o que fazer quando eles choram
Não! Pára tudo!
Nós gatos não viemos ao mundo aparelhados para fazer adultos pararem de chorar
Geralmente esse é um momento desesperador para nós
Em algumas poucas ocasiões, deu certo se fazer de cachecol
Noutras não
Aí ficamos ali estáticos: até que os adultos durmam
Quando acordam geralmente estão melhores
Adultos parecem crianças quando nos assistem entrar e sair de caixas de papelão
Noutras horas parecem focas quando nos batem palmas só porque bebemos água
"Gatos não são grandes bebedores de água", diz a adulta lá de casa
Ela deve ter lido isso naquele dispositivo que pega de vez em quando entre as mãos
Parece que são chamados de "celulares"
Nestas horas, duas ou três cabeçadinhas no tal dispositivo costuma resolver
É que, apesar de serem tão estranhos, queremos esses adultos só para nós!!!
assinado: Sol, Thor e Krishna, os gatos da adulta Letícia.
Fotografia: Sol e Thor por Letícia Amaral, em setembro de 2014
sábado, 4 de outubro de 2014
Das causas das paixões
Aquele encantamento poderia ter sido moldado justo pelo vento fresco, o chá entre as mãos e todo aquele conjunto de impressões anteriores, possivelmente pura fantasia, como já havia me advertido Schopenhauer. Mas não. É bem devagar, a custa de muitos minutos, que recordo outros pontos de apaixonamento.
E justo agora converso com Novalis uma conversinha de começo de manhã. O café com leite de soja sem açúcar me acorda as idéias junto com os fragmentos perfeitos deste doce senhor que influenciou meu Walter Benjamin ( e disso não tenho dúvidas)... Novalis me conta que "De um objeto digno de amor não podemos ouvir o bastante, falar o bastante. Alegramo-nos com cada palavra nova, certeira, glorificante. Não depende de nós, se ele não se torna objeto de todos os objetos". Ou poderia ser dito desta outra forma também: não depende de nós se ele se torna, sim, objeto de todos os objetos. Não depende de mim mesmo, não determino.
Determinante foi aquela voz de passarinho, aquela não pressa, aquele desencontro. Determinante foram todos os pequenos encontros absolutamente não marcados, que o mundo da representação batiza de "afinidades". Tua roupa simples como a de um monge. A tua despretensão. A tua hesitação manoeldebarriana, meio fruto de delicadeza, meio fruto de um espírito (de porco) kantiano (eca!). "Cada ser humano é uma pequena sociedade", Novalis me socorre mais uma vez. E suspira: "Amamos a matéria, na medida em que pertence a um ser amado, é portadora de seu traço, ou tem semelhança com ele". Sim, quem ama não escolhe predicados. E esta outra que descobri perto dos 40: quem ama, mesmo, é desprovido de pressa, aparelhado de asas e vai para o mar para aguardar a doce calma da eternidade.
foto: Tela de Wassily Kandinsky, no Pompidou
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