Para ler ouvindo:
Everything Happens To Me - Art Pepper
A cada ano que passa espero pelo filme de Woody Allen. Para mim, é cinema de alta qualidade junto com melhor música (jazz, blues, soul) fotografia impecável e, como se não bastasse, um pouco (ou muito) de psicanálise a cada roteiro.
"Um dia de chuva em Nova York" me mostrou uma New York que pode ser aconchegante, como eu nunca havia achado antes. Um dos personagens principais, Gatsby (Timotheé Chalamet), um mocinho de alma sensível e ávido pela vida no modo "intenso", é um apaixonado por Nova York, e encontra uma oportunidade para apresentar a bela cidade à sua namorada, uma estudante de jornalismo, Ashleigh (Elle Fanning). A Nova York que vemos na telona dessa vez é uma cidade cheia de hotéis, pianos-bares e clubes de jazz antigos e com atmosfera intimista irresistível. Essa Nova York, oposta à Big Apple geralmente esquizofrênica me deu vontade de ir conhecer como nunca tive antes... O que vemos na telona é uma Nova York que só os locais devem conhecer bem. São lugares menos lotados que aquela imagem do centrão tão comuns nos filmes situados por lá... Ah se deu vontade...
A trilha sonora repete uma seleção quase sagrada de jazz e blues típica dos filmes de Allen... E lá vou eu pro meu ritual pós-filme: correr pra casa e baixar toda a "soundtrack" da película nova de Allen.
Sem falar que este roteiro equilibrou drama e humor na medida certa.. E digamos que eu assisti o filme no último sábado e estou até agora rindo da principal piada, que eu não vou contar porque não sou dessas...
Quanto ao pequeno drama, que é bem pequeno mesmo e nem dá tempo de chorar, fica por conta de um diálogo revelador e até curativo, eu diria, entre Gatsby e sua mãe (Cherry Jones) , uma senhora elegante e sempre muito exigente. É exatamente o ponto de psicanálise da película, numa medida tão perfeita, tão despretensiosa, que irá captar até os mais afastados das linhas de Freud. Diferente dos primeiros filmes de Allen, nos quais as citações eram muito explícitas, quase em tom de esnobismo intelectual... Agora não, agora é diferente. O diretor americano aprendeu a diluir o conteúdo psicanalítico de seus roteiros de uma forma sutil, como um suave sachê de chá de camomila...
Para os críticos e moralistas de plantão: repito o que sempre digo em relação à Woody Allen. O diretor já escreveu seu nome em letras douradas na história do cinema: seus filmes nos fazem bem na medida certa: um pouco de sonho, um pouco de romance e uma pitada daquela pimenta chamada vida real. Quanto às acusações em tribunais, para os mais chatos, informo, como jornalista que o velho Allen foi absolvido nos processos que respondia em dois estados diferentes dos EUA e não deve mais nada à justiça americana, caso seja isso que te afasta da obra dele.
Se eu pudesse mudar algo em "Um dia de chuva em Nova York", mudaria apenas a idade dos personagens, um pouco jovens demais... Mas, se não fossem tão jovens, não teriam feito as bobagens e intensidades que tanto me fizeram rir e sair do cinema nas nuvens, como a sétima arte, ao meu humilde ver, deve ser. obrigada Allen! Vida longa! Vou ver de novo!!!