domingo, 15 de outubro de 2017

E por falar em inatual...



Let's make a memory
Roy Orbinson (1936-1988/singer/ USA)

https://www.youtube.com/watch?v=lNXb0QtytWs


Straight to the light...





...because we all need a beautiful song... 

"When I law down my fears
My hopes and my doubts
The rings on my fingers
Ans the keys to my house
With no hard feeelings..."

(No hard feelings, The Avett Brothers)

https://www.youtube.com/watch?v=tFGs7HP15d4



terça-feira, 3 de outubro de 2017

Trocando jornalismo por gastronomia (e a culpa é da Netflix)




Eu tinha uns 12 anos quando fiquei encantada com um doce típico de Portugal: o quindim, uma mistura de muitas gemas de ovo, açúcar e côco ralado. Eu achava aqueles bolinhos amarelos reluzentes tão belos que investi até em mini-forminhas de metal, para que ficassem originais. Fez sucesso na família. Tanto que até fiz para vender por encomenda por um tempo. Este foi só o primeiro passo na gastronomia... Depois vieram biscoitos, bolos, e, só por último, comida de verdade, para almoçar e jantar. Se tivesse nascido numa família de chefs, provavelmente eu teria trilhado esse caminho... Caminho que hoje trilho simplesmente em casa, para família e amigos...
Porém, dia desses, a série Chef's Table [France], de Netflix, me pegou. Estou até agora pensando no alto nível dessa série de documentários sobre os melhores chefs de cozinha da França... Os mais novatos têm, pelo menos, uma estrelinha Michelin.  Os documentários, feitos com muita arte e poesia, mergulham na singularidade de cada um dos chefs. Duas histórias me comoveram profundamente. A primeira é a do chef Alain Passard, que já tinha 3 estrelas com seu Arpége (84 Rue de Varenne, Paris), quando se converteu ao vegetarianismo. Os críticos não gostaram, nem os velhos clientes. Mas ele não ligou. Confiou no que estava sentindo e continuou a buscar inspiração nos legumes, todos produzidos por sua própria horta. "Minha horta me salvou", declara ele, que estava certo... Reconquistou cada uma de suas 3 estrelas, perdidas porque haviam sido conferidas à pratos de carne. Arpège segue incólume e Passard hoje vê a França cantando seus parabéns por 50 anos dedicados à alta gastronomia. Entre as delícias que ele criou está a torta de maçã em formato de buquê de rosas, a cebola flambada e a beterraba na brasa na crosta de sal.  
O segundo personagem incrível é Alexandre Couillon, chef do La Marine, hoje com duas estrelas Michelin. A história desse chef é muito curiosa. Ele nasceu e vive até hoje numa pequena ilha chamada de Noirmoutier, próximo de Nantes. Quando decidiu se dedicar à gastronomia, ele pensou: como ficar aqui? como ter clientes nesse fim de mundo no noroeste da França? A ilha de Noirmoutier tem um detalhe curioso. Em alguns dias do mês, por ocasião da maré alta, o único caminho que leva à ilha simplesmente desaparece. Fica inundado pelo mar. Essa marca de Noirmoutier faz com que seus moradores se sintam meio apartados da civilização... E o chef Couillon não era diferente... Sentia-se muito longe de tudo... Mas combinou com sua esposa: "Vamos tentar aqui por sete anos... Se não vingar, aí sim, vamos embora". E assim foi feito. Passou os primeiros sete anos do La Marine com pouquíssimos clientes, quase sem capital. Sua culinária sempre foi inspirada no mar e seu universo. Quando já estavam pensando em desistir, veio o inusitado: a primeira estrela!!! Então as coisas aconteceram. E Alexandre Couillon colocou a ilha de Noirmoutier no mapa da gastronomia internacional. 
Essas histórias são narradas com uma luz incrível, mergulhando nas imagens dos ingredientes e nas histórias de vida dos chefs.
Aí, a meninazinha dos quindins passou a se pegar pensando num menu irresistível para comer rezando e de preferência num ambiente de meia luz e sons de muito bom gosto... Pode ser só mais um sonho bobo, pode ser que seja realizado apenas para os mais próximos e amados... Mas tem sido uma maravilha vibrar com a gastronomia de novo. Para que o novo encontre a força do que é alegre e bom, para que eu faça feliz quem estiver ao meu redor, de preferência, ao redor de uma boa e bela mesa. 


Para ler ouvindo: Mon Dieu - Edith Piaf
https://www.youtube.com/watch?v=x0oMQu2id6I