terça-feira, 12 de março de 2024

Mar manso


 Mar manso e morno

Um tempo em que nao se faz pedidos

apenas agradece 

e chegada a hora da confianca

o momento em que nao se precisa mais provar nada para ninguem

olha ao redor

ve a praia, o mar, uma espreguicadeira

uma fe inabalavel

nao esta vulneravel 

e tem um livro a caminho, um filme e muitos sorrisos



quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Como a Luísa, eu também, "principalmente me sinto arrasada"



Um dia desses, tentando adormecer, ouvi essa música e ela estava dizendo tudo o que eu estava sentindo... Então peço licença pra Luisa e posto aqui. Com essa música e com "Chico" voltei a admirar o trabalho de Sonza, que teve um início incrível com voz e violão, mas por um tempo andou perdida entre pancadões de mero rebolado. Com "Principalmente me sinto arrasada" aplaudo a loira novamente. Please, just keep going Luiza! #luisasonza #sonza #letíciaamaraljornalista 

Principalmente me sinto arrasada 
(Luisa Sonza) 
Caralho, minha cabeça vai explodir
Eu tô cansada, faz tanto tempo que eu tô cansadaFaz tempo que eu atento contra o tempoE não consigo nadaQueria odiar você, queria conseguir ter raiva de você
Tua falta, me cansa, teu debocheTua bandeira falsa, tenho raivaMas que hipócrita, cadê o botão de pausa?É tanta encenação, que chega tá me dando náuseaUgh, chega, tá me dando náusea
Observada, eles contam os meus passosSeguem a boiada, tomar no cu quem acha graçaGrito na cabeça a voz que me sai arranhadaE eu não faço porque os outros querem que eu façaPuta que pariu, eu tô surtando de irritadaQue caralho eu tô fazendo dando essa rimada?
Eu não podia mais abrir mão de mimEu juro que eu fiz tudo que pudeMas te agradeço tudo que vivi e vi com vocêMe fez ser quem sou hoje
E mesmo que às vezes euEsteja ou pareça, um pouco, um tanto longeE mesmo que a cidade não desejeQue você se lembre, guardaO que sobrou da gente, eu tenho hoje
Menina, tá ficando muito tardeTá tocando o teu alarme, tu tem coisa pra fazerPara de choramingar, reage, maluca, sai da viagemTu não é mais um nenê
Será que alguém vai querer saber?Ou ninguém mais tá interessado no que eu tenho a dizer?Será que eu sou uma fraude? Bom, já já vamos verCerteza que eu tô à beira de enlouquecer


 

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

Sobre o filme O Marinheiro das Montanhas de Karim Aïnouz


por Letícia Amaral 

Acabo de sair de uma segunda sessão de "O Marinheiro das Montanhas", em cartaz desde 21 de setembro último em todo o Brasil. Fui na estreia e precisei ir mais uma vez para contemplar  a luz de Karim. Meus olhos estão vermelhos de choro de emoção. 

No roteiro mais pessoal de toda a filmografia de Aïnouz, nos deparamos com uma história de amor: a dos pais do cineasta. E com o devir desse amor: Karim e sua obra cinematográfica. Uma mãe cearense e um pai argelino. Eles se encontram nos Estados Unidos. Só agora conhecemos Iracema, a cearense que viajou para o exterior para estudar algas marinhas, mas caiu na armadilha da paixão... E regressou ao Ceará com o fruto desse amor no ventre. Sozinha. O namorado não veio. Ele retorna à Argélia para lutar na guerra da independência. A dor de ser deixada é algo indizível. Mas ser deixada grávida, aí é preciso ser um herói para suportar. Fico imaginando a dor dessa mãe solteira, que esperou por seu amor argelino tantos anos. Recebeu cartas, cartões postais e fotografias, mas nunca, nunca, nunca uma visita, só promessas não cumpridas. Conhecemos ambos através de fotografias que entraram no roteiro de "Marinheiros".  Dor também para esse filho, que só conhece o pai por fotografias. E cresce com essa falta. Me envergonho de ter sofrido por tão menos que isso. Minhas desilusões são pó diante da história de Iracema e do pequeno Karim, nome próprio que em Kabyle quer dizer "generoso". 

E é de uma forma muito generosa mesmo, sutil, muito suave que Karim narra essa história em forma de carta: uma carta para sua mãe Iracema, escrita por ele enquanto visitava a Argélia pela primeira vez em sua vida, em 2019, antes da pandemia do corona vírus. Dona Iracema, então, não estava mais entre nós. Partiu no ano de 2015, deixando a semente de Argel no peito do cineasta. Não há tom de rancor na carta. Karim tem uma alma superior. Muito pelo contrário. Quando ele chega a Tagmut Azuz, na Cabília, região montanhosa e fria, vai ao encontro de possíveis parentes. E os olha profundamente nos olhos. Há uma sequencia belíssima de primeiríssimos primeiros planos de muitos Aïnouz: é preciso olhar esse outro nos olhos, e profundamente.

Quanta coragem deve ter sido necessária para revelar ao mundo esse drama familiar... Um drama que, por outro lado, forjou a ferro e a fogo a personalidade de um cineasta sensível que opta por transformar sua vida em belíssimos roteiros de cinema. Há coragem e alegria no lugar de dor. 


Com um filme só matei minha dupla curiosidade sobre a Argélia: por causa de Karïm Ainouz e de Albert Camus, meu escritor favorito. E foi maravilhoso contemplar Argel e Cabília na película da Super 8, que eu havia visto pela última vez nas aulas sobre cinema da faculdade de comunicação. É uma cor linda a de Argel, uma cor dourada de sol, como a que Albert Camus sempre descreve, revelada com a película da Super 8. "É vintage que fala", declara decidido minha dupla da primeira vez que fui ver o Marinheiro, o menino Samuel, estudioso de cinema tão curioso quanto eu.

A equipe do filme também fiquei sabendo que foi reduzidíssima, contando apenas com um motorista, um tradutor e o próprio Karim operando a super 8 na Argélia. Um diretor de fotografia foi na sequência ao país incumbido de trazer belas imagens, e trouxe mesmo. Juntando com imagens de arquivo da guerra da independência da Argélia, deu um caldo de respeito.

Outros detalhes que fazem os filmes do Karim serem amados por nós cearenses é que sempre há conexões com Fortaleza nas narrativas. E confesso que ver nossa Fortaleza bela na telona do cinema é sempre um momento reconfortante, feliz, de aconchego.

Sei que amanhã vou lembrar de mais coisas... E talvez volte aqui para escrever. Mas por hoje está bom. Fiquemos, nos próximos dias, com as reflexões do Marinheiro e a alegria da trilha sonora vibrante como só as pistas de dança que o cineasta definitivamente nos proporciona em todos os seus filmes: de "Smalltown boy" de Bronski Beat a "Sweet Harmony" de The Beloved, saímos da sala com vontade de dançar para celebrar a vida, mesmo que ela seja dolorosamente imperfeita.

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Recadinho aos seguidores do Blog Inatual


Queridos leitores e amigos,

Aqui com minha xícara de café com leite de aveia nas mãos, gostaria de informar aos mais atentos a este blog, que as postagens diminuíram e alguns textos foram retirados deste espaço. 

A explicação é também uma boa notícia para vós e para mim mesma! Ando às voltas com a publicação do meu primeiro livro. Ele vai reunir os melhores textos, crônicas e fragmentos que pude selecionar. Então, se você sentiu falta de algum texto que você amou e ele não está mais aqui, já sabe: estarão melhorados e revisados no meu primeiro livro de literatura a ser lançado em breve! 

Conto com as leituras de vocês e com a presença de cada um por ocasião do lançamento que avisarei por aqui também. Quero poder abraçá-los e ouvir de vocês mais ideias para os futuros escritos e documentários em audiovisual. 

Obrigada pela audiência e pelo carinho. Vocês me motivaram a seguir em frente com este sonho! 

Nos vemos em breve. 

abraço fraterno, 

Letícia Amaral 

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Um fim de semana em Belém do Pará


 

Acordou passada com o brilho daquele sol. Dourava a manhã inteira e pintava tudo com as cores dos peixes e dos açaís. Parecia a cidade mais bela do Brasil: Belém do Pará, e devia de ser. 

Manhã de luz, de café continental para ser bem leve. Leve pra andar na avenida Carlos Gomes até o Mercado Ver o Peso e voltar. Trazendo consigo cachaça de cupuaçu, esculturas de barro do Marajó, Muiraquitã e peixe com açaí na barriga. 

Agora estava tendo um "trabalhão". #só que não hahaha! Escolhia um lugar para almoçar o melhor peixe filhote com arroz de jambu. 

A vida é boa, pensava e sorria.



O peixe com açaí foi no box "Pororoca Açaí", no Mercado Ver o Peso, na parte aberta. Na parte fechada do Ver o Peso só se vende peixes frescos e mariscos. Foi atendida pela Nice com uma simpatia que só se vê num recanto chamado Brasil. Os nativos diziam em tom de torcida: vai, dá uma mordida no peixe! Iiiisssoooooo!!! Agora pega uma colherada do açaí! Vaaaiiii!!!!! E ela seguia o roteiro num êxtase de indigeneidade que estava em seu DNA, provavelmente. O licor de cupuaçu deixou o momento com tom de mágico. O mundo girava ao redor do rio Guamá, que soprava um vento úmido e cálido. A atmosfera do norte brasileiro tinha cheiro de água de rio, tinha som de riso solto e gosto de fruta com farinha d´água. Em nenhum lugar do mundo sentiria novamente que estava tão no lugar certo. Ali não precisava de muito dinheiro. 15 reais pagaram a conta, ou 2 dólares.

Letícia experimentando o açaí com peixe frito

 Voltou pro velho hotel no bairro Campina, vizinho à Cidade Velha caminhando. Cada quarteirão tinha tanta beleza e história que a caminhada parecia brisa leve... 

Com Nice no Pororoca Açaí

Em Belém não são apenas um par de prédios históricos. A cidade foi certamente forte gênese da cultura brasileira, forjada à base de pele índia e porcelanas do velho mundo. É nossa pequena Europa brasileira, com sobrados altos cobertos de azulejos do chão ao teto.



Queria provar os ingredientes locais. Foi aí que se descobriu caminhante pelas ruas do bairro Nazaré. Cruzou a Travessa Benjamim Constant e claro que lembrou de seu querido filósofo Walter Benjamim. Mais um pouco e alcançou a avenida Comandante Brás de Aguiar, com suas senhoras árvores, de uma majestade tão real, mas tão acolhedora. Eram dezenas de lojas, restaurantes, docerias e um par de gente sorridente pra valer. Moraria ali sim, e ainda acharia que estava no Rio de Janeiro! Sim, achava que Belém, com seus prédios de arquitetura moderna do bairro Nazaré, super parecida com o Rio de Janeiro. E tinham também os bosques. Toda a cidade fica debaixo de um grande bosque. O clima amazônico deixa tudo com um ar perfumado de verde e chuva. Siiimmmmm... A chuva chega em Belém todo final de tarde, nada tímida, Que saudade!!!

cachaças no Mercado Ver o Peso 

Num restaurante self-service no número 474 da avenida Brás de Aguiar, chamado San Tito, encheu o prato e depois a boca com um filé de peixe "dourada" acompanhado de purê de macaxeira e um camarão com abóbora que a fez rezar uma ave-maria bem devagar. Estava maravilhoso e custou 65 reais, uns 10 dólares. Preço ainda baixo se compararmos ao custo de alimentação em qualquer destino europeu ou mesmo do sul da América Latina. 
Como era tipo férias, deu vontade de um docinho. Jogou no google "melhores docerias de Belém" e encontrou duas possibilidades na mesma rua.  Apareceram a "Doçuras", no número 264, e a "Eti doceria", no número 232, da Brás de Aguiar. Entrou nas duas. Apaixonou-se pelos quindins da "Doçuras". Dois quindins e uma água mineral custaram 27 reais. Depois de tantas guloseimas, precisava voltar andando para o hotel Princesa Louçã. E assim o fez. Meu Deus, sua vida bem que seria bem feliz ali. 


Deslizava pela Brás de Aguiar meio deslumbrada com a riqueza das lojas granfinas, de tanto bom gosto... Linho, cores vibrantes, vestidos soltinhos e macacões de algodão estavam na moda. Também sapatarias chiques surgiam pelo caminho. No entanto era possível viver apenas com um par de sapatilhas e outro par de havaianas... O trecho lembrava a rua Farm de Amoedo, do Rio de Janeiro. Incrível essa semelhança. A temperatura média estava em 28 graus, mas com a chuva que já se anunciava num vento molhado, era impossível sentir calor. 

Súbito: não sabia como fora esquecer de o quanto era bom viajar em sua própria companhia. É uma tranquilidade fazer o que se quer sem opiniões. 

Pracinha em frente ao Teatro da Paz



No sábado de tarde se arrumou e saiu andando pela avenida presidente Vargas até a Estação das Docas. Era o que queria. Mas no meio do caminho, na esquina com a rua Ó de Almeida, ela amou esse nome estranho, começou a chover. Tomou um táxi. O motorista avançou 2 sinais vermelhos. Gelou. Meu Deus! E morrer ali? Mas a outra opção era ficar todinha molhada. Aguentaria firme. Chegou à linda Estação das Docas a tempo de fotografar e filmar um pouco daquela tempestade em pleno Norte brasileiro. De onde vinha a moça, Nordeste do Brasil, não tinha chuva desse jeito não, viu? Era mais um espetáculo: conhecer uma chuva daquela magnitude. O céu ficou num cinza chumbo e se misturou à cor do Rio Guamá. Uma lindeza. Isso sem falar que não passa logo não. Em Beléma chuva retumba e demora. Pediu um chopp e bebeu bem devagarinho. Queria que aquele show da natureza não terminasse nunca.



Seria muito cedo para aterrizar no Bar Palafita, na Cidade Velha? Possivelmente sim. Eram apenas umas 18 horas. Mas só saberia se fosse até lá. Considerava o Bar Palafita, na rua Siqueira Mendes, número 264, um lugar incrível, um clássico de Belém. Fica num casarão antigo com fachada em vermelho e mostarda. Os visitantes entram pelo casarão, mas este depois se estende por uns 50 a 70 metros até o Rio Guamá,  numa longa passarela de tábuas corridas sobre palafitas. 

Bar Palafita por trás, onde toca o rio Guamá


Era sem dúvida uma arquitetura impactante e a moça lembrou um pouco da boemia da Praia de Iracema, seu bairro natal, em Fortaleza, estado do Ceará. 
Ficou ali admirando aquele mundo de água, aquele rio que não se vê o outro lado e um vento fresco que parecia ter-lhe flechado bem no centro de seu chacra cardíaco. Valia a pena viver, pensava. Valia a pena ser uma sobrevivente. 


Estação das Docas na hora daquela chuva colossal

Não pôde deixar de recordar também uma noite de seus trinta e poucos anos, quando aproveitou uma festa no mesmo Bar Palafita ao som de muita guitarrada, brega e samba. 


fachada do Palafita Bar

Dessa vez, porém, a festa não tinha começado. Só começaria umas horas mais tarde. E a falta de companhia também falava alto. Fotografou o belíssimo casarão do Palafita Bar e o prédio ao lado, a "Casa das onze janelas", belo patrimônio de São Luís.
Acabou jantando o tal "Filhote", ao "molho provençal" no restaurante Tio Armênio, na Estação das Docas. Pagou apenas 50,00, menos de 9 dólares. O que lhe permitiu se entregar sem culpa à sobremesa de  chocolates recheados de doce de cupuaçu. Sim, estava no céu, mas não havia sido avisada.  Pensava: Viva Belém! 

Sua estadia chegava lentamente ao fim. Sonhava em conhecer a Ilha de Combu... Mas não foi por motivo de preguiça mesmo. 
Aceitou o convite de uma velha amiga, Alessandra, para o almoço do último dia da viagem na Casa das Onze Janelas, na Cidade Velha. Ambiente decorado com imagens típicas de Belém.  Entrada de caipirosca de Cupuaçu e pastelzinho de queijo de Belém, risadas, saudades antigas. E um prato principal bem gaiato com nome de "PF": Filhote com Arroz de Chicória e creme de cupuaçu de sobremesa por apenas 50 reais. 


Casa das Onze Janelas, restaurante 

Também não ia querer esquecer de mais alguns lugares especiais, o restaurante Avenida, onde pediu um vinho tinto e comeu no formato buffet, servindo-se umas dez vezes de pratos com a cara do Pará: molho de tacacá com camarão e peixe, principalmente. Neste, por conta do ambiente refinado, pagou uns 120 reais, uns 20 dólares muito bem pagos com direito até a sobremesa. O Restaurante Avenida tem muita tradição na cidade. Fica na Avenida Nossa Senhora de Nazaré, número 1086. Os garçons são senhores de idade que puxam a cadeira para você se sentar e sorriem largo.

Restaurante Avenida


Fez também  uma longa caminhada de umas 2 horas saindo do hotel Princesa Louçã, passando pela Cidade Velha inteira até passar pelo quartel da Marinha do Brasil, chegar ao Mangal das Garças e voltar pelas ruas de dentro até chegar ao seu bairro novamente. Isso foi na manhã de domingo. Amava cada passada naquelas calçadas de pedras.


Garças no Mangal das Garças


Mangal das Garças

E num dos dias chuvosos jantou no impressionante Roxy Bar, um clássico de Belém, com mais de 37 anos de história. O restaurante fica num galpão antigo de grossas paredes, foi fundado em 1984. Todo decorado com imagens de filmes clássicos do cinema. Claro que pediu o Filé Saddam Russein, um filé mais que suculento acompanhado de uma farofa de ovos bem fininha que só tem no Pará, arroz piamontese e batatas fritas. É o prato mais famoso do Roxy Bar, ao lado de entrada de Bolinhos de Carne recheados de queijo e outras delícias.  Esse restaurante é com certeza um dos melhores de Belém e um dos mais estilosos do Brasil . O Roxy Bar fica na rua Senador Lemos, número 231, bairro Umarizal. Todos os taxistas conhecem, e seu Pedro, que a levou, sabia exatamente onde era.


Acima: Roxy Bar por dentro. Abaixo: Prato Sadan Hussein 




Queria voltar muitas vezes. Deus é que saberia. Não conseguia mais tirar do pescoço o pingente de Muiraquitã, uma sapinho cheio de mitologia que dá sorte ao povo paraense, e agora, também a ela. Ninguém diria que não era uma índia local, até com um tiquinho de açaí sujando o dente da frente. Mas deixemos dessa prosa tão longa... Precisava correr porque a chuva se anunciava mais uma vez e tinha de pegar um vôo pra casa. Amém Belém. Um quadrinho com a virgem Nazaré ao lado da musa Marilyn Monroe, ícone do Roxy Bar,  não a deixará se esquecer que esse Brasil é feito de muitos Brasis multicoloridos. Há espaço e amor pra todos eles.









 
 

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Cometa Rebeca

 


Aquele 29 de julho estava pesado como os ares dos últimos tempos. O Brasil tinha apenas uma medalha de ouro nas sofridas Olimpíadas de 2021 até então...

Deus sabia que precisávamos de uma brisa leve...

Foi assim que por volta das dez da manhã uma menina de sorriso iluminado coloriu as nossas telinhas... Chegou como um passarinho, alegre e saltitante. Apresentou uma ginástica olímpica diferente, dessas que nunca se tinha visto... Rebeca Andrade, filha de Guarulhos, São Paulo, não parecia estar competindo. Não havia em seu rosto aquela expressão estressada das outras atletas. Claro que deve ter sido muito treino, muito trabalho. Mas não havia esse peso em sua resplandecente figura... Como se fosse dança, como se fosse fácil, a menina brasileira foi lá e voou, piruetou, sambou e sorriu... E fez todos os mortais necessários à nota enfadonha, todos os solos e aéreos estavam lá cobertos de azul, amarelo, verde e cor de jambo... Como se fosse um cometa, aquele momento passou pelo nosso céu em menos de 3 minutos... E nos deixou com a sensação de que a vida certamente vale a pena. A vida vale a pena até para as meninas que não nascem em berço de ouro. A vida vale a pena até para as meninas que lutam para sobreviver. E a vida vale totalmente a pena quando se decide que o impossível não existe. 

Só Rebeca e sua família devem saber tudo o que passaram para perseverar num esporte olímpico em pleno Brasil. Quando uma menina brasileira sobe ao pódium sabemos que vale muitíssimo mais do que quando uma americana ou uma alemã alcançam o mesmo lugar. No Brasil, fazer um pouco ou fazer o básico já é muito, porque sabemos, nada é facilitado pra quem nasceu na humildade. A lição que Rebeca Andrade nos deixou hoje é uma lição dessas que a gente só sente no peito, nos olhos, no coração... Ela levou a prata!* Foi justo... Só de estar ali já valeu cada respiração. Tive vontade de chorar de alegria e de glória por algum tempo. Quis ficar ali sorrindo e vibrando aquela energiapositiva tão verdadeira do sorriso da Rebeca Andrade.

A página hoje escrita por esta atleta brasileira é de uma preciosidade gigante. Acho que todas as vezes que eu sentir tristeza nessa vida irei fechar os olhos e tentar me lembrar do solo da Rebeca... Um solo importante e disputado, mas cheio de leveza, beleza, brasilidade, alegria, gratidão, fé, confiança, jovialidade, feminilidade, cheio de Rebeca. 

Vou ficar torcendo pra todas as meninas do Brasil terem a chance de assistir esse solo e sentirem a pulsação dessa alegria brasileira que a Rebeca nos apresentou... Vou ficar torcendo para que a força simbólica da vitória da Rebeca empodere as meninas negras e pobres do mundo inteiro. Viva Rebeca, viva o esporte que nos tira da zona de conforto, nos enche de saúde, vida, beleza. Obrigada, Rebeca Andrade!!!! 


*nos dias que se seguiram a atleta também ganhou uma medalha de ouro.



  

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Jericoacoara




Estrada já foi mais longa

De terra, de chão, de duna

Tem um deserto entre a cidade e a vila

Vila de Jericoacoara

De jipe, de carrinho baixo, de pau de arara

estrada de vento, de areia, de riso, de pula pula

não solta não 

Que mais tarde de tem lua balão

e pé de estrela por todo lado

peixe e polvo

forró e funk 

tem sono profudo e cochilo ligeiro

tem vontade de ficar pra sempre 

e enquanto não dá

torta de banana com café as quatro e meia 

pão quentinho na madrugada

vem comigo caminhando até a pedra furada

ou sobre o long board

reza uma ave maria em frente a igreja de pedra 

desce pela malhada

e se benze na beira do atlântico

lembra do beijo na boca da noite 

do abraço roubado

da noite não dormida 

da manhã bem vivida

pargo no molho de caju

caipirosca de cajá

volto já

pra te ver

pra ficar

debaixo do pé de estrela 

já já